Foi posteriormente pedido o projecto de um pequeno bar/cafetaria, cujo programa consiste apenas, numa sala de serviço ao público, numa esplanada exterior, copa e sanitários. Nesta conformidade e em harmonia com o plano, foi considerado que o melhor local para a implantação desta estrutura se situasse também no areal, junto ao passeio publico, no enfiamento da Avenida do Ferrol.
Esta construção remata o plano a Norte, em contraponto à fortaleza situada a Sul. Embora com função, escala e materiais completamente diferentes a forma geométrica deste austero monumento impressionou-me a ponto de me inspirar na concepção desta pequena intervenção arquitectónica. A partir da forma triangular, fixando-me no equilátero, rapidamente cheguei ao tetraedro. As inúmeras possibilidades de associações e composições modulares conduziram à criação deste projecto plástico, exclusivamente através de um trabalho de manipulação tridimensional em maqueta, continuamente controlado pelas exigências funcionais e conceptuais.
Cada tetraedro é constituído por quatro estruturas triangulares iguais mas por quatro superfícies interiores de diferentes materiais: uma de vidro transparente, outra de vidro opalino de onde irá surgir a luz artificial, outra em gesso cartonado que funcionará como receptora da luz/cor e outro lado vazado, correspondente ao pavimento ou ainda ao tecto, conforme a sua orientação no espaço. As superfícies exteriores de cada tetraedro serão uma em vidro e as outras em placagem de betão ou eventualmente em chapa de alumínio.
As sucessivas repetições do tetraedro em diferentes orientações obedeceram a regras correspondentes a uma ordem muito precisa, dentro da qual acontecem variados efeitos e situações de aparente caos, devido às sucessivas alterações na ordem de colocação dos materiais nas superfícies triangulares de cada tetraedro. Este facto evoca o conceito fractal (1) aqui associado à concepção arquitectónica.
Esta composição cria efeitos tridimensionais novos, proporcionando grande riqueza espacial associada a jogos de luz decorrentes das várias orientações, transparências e opacidades. A percepção dessas particularidades torna-se impressionante, tanto a partir do seu interior como do seu exterior.
Embora pareça uma solução dispendiosa pela sua originalidade, o facto de ser estruturalmente modular permite a produção em série optimizando os respectivos custos.
Foram respeitadas todas as normas em vigor do Regeu internacional, particularmente as que concernem à segurança.
(1) Um fractal é uma forma geométrica fragmentada que pode ser dividida em partes, cada uma das quais é, pelo menos aproximadamente uma cópia reduzida do todo. Os fractales são geralmente semelhantes e independentes em escala.
A geometria fractal e a teoria do caos estão a dar-nos uma nova perspectiva de ver o mundo. Durante séculos usamos a linha como um elemento construtivo básico para compreender os objectos do mundo a nossa volta. A ciência do caos usa uma diferente geometria, chamada geometria fractal. A geometria fractal é uma nova linguagem, usada para descrever, modelar e analisar formas complexas encontradas na natureza.
Algumas das coisas que o fractal pode modular e produzir são plantas, o tempo, movimento de fluídos, actividades geológicas, órbitas planetárias, ritmo do corpo humano, comportamento animal em grupo, padrões sócio económicos, música, etc, que não correspondem a formas geométricas simples. Tornou-se por isso necessário utilizar uma gramática apropriada.
Fornece-nos uma forma diferente de observar e modelar fenómenos complexos em relação à geometria Euclidiana ou aos cálculos desenvolvidos por Liebnitz ou Newton. Uma conjunção entre os campos disciplinares da Ciência e a sua complexidade e as potencialidades da informática traz-nos novas ferramentas e técnicas para explorar os sistemas que gerem o mundo.
Podemos dizer que o fractal, ao contrário de um padrão Euclidiano, revela uma maior complexidade à medida que é aumentado como figura. Beck Further explica-nos que quando olhamos de perto para padrões Euclidianos, as formas assemelham-se cada vez mais a linhas rectas. Pelo contrário, quando olhamos de perto para um fractal vemos cada vez mais detalhe. O seu perímetro pode tornar-se infinitamente grande, sendo que a sua área é sempre finita. Num esquema do tamanho de uma árvore ou de uma ervilha pode traduzir-se toda a complexidade da criação da natureza.
Patenteiam graficamente a noção de «mundos dentro de mundos», razão pela qual se tornaram obsessão da cultura ocidental desde o século X até aos nossos dias.
Porto, 21 de Março de 2002
Álvaro Leite Siza Vieira - Arquitecto