Terminal de Cruzeiros de Lisboa
Mais do que um programa relativamente simples como o do novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa, o edifício desempenhará um papel essencial e protagonista na definição dos espaços urbanos da plataforma marítima em frente aos edifícios vinculados à actividade portuária.
A sua forma de abordar ao terreno será vital para a definição dos espaços urbanos por ambos os lados do Terminal. A sua forma e volumetria será fundamental pela sua integração na explêndida paisagem urbana da cidade que vai caindo até ao rio. Será um edifício em que a dimensão urbana da sua arquitectura, a qualidade urbana do arquitectónico, assuma um papel relevante na edificação dos seus aspectos formais.
Presença na cidade, capacidade de organizar e definir os espaços urbanos, mas também presença no rio, capacidade de propor uma peça arquitectónica em sintonia com os edifícios industriais que vão construindo a margem direita do rio Tejo.
O edifício deve oferecer uma fachada urbana principal capaz de ajudar a configurar a nova praça da Alfândega, mas ao mesmo tempo deve oferecer uma fachada marítima relevante e com forte presença como corresponde a um edifício da natureza como o novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa.
Das considerações conjuntas destas reflexões surge a nossa proposta: Um edifício em forma de L , ou dito de outra maneira, duas peças unidas por uma ligeira galeria a fim de evitar a presença de um grande volume fechado que obstruisse ou dificultasse a visibilidade sobre o rio desde a Avenida Infante D.Henrinque.
Esta maneira de se abrir em L permitirá oferecer uma fachada urbana à nova praça da Alfândega construindo inteiramente o seu limite Sudoeste através de uma ampla e generosa consola suspensa e propor agora três linhas de árvores de grande porte em frente à irrelevante fachada lateral do Jardim do Tabaco, de forma que a Alfândega e o Terminal de Cruzeiros sejam agora os dois grandes edifícios que configuram a nova praça, aberta ao longínquo horizonte do rio.
Esta construção em L permitirá igualmente oferecer uma ampla fachada marítima desenvolvida no Piso 1, uma vez que no Piso 0 desaparece a construção, com o duplo objectivo de permitir a vista ao rio desde a cidade e ao mesmo tempo propondo um espaço público coberto em relação com a segunda praça que conforma o diedro do terminal.
Junto a esta segunda praça, recatada e mais arborizada que a praça da Alfândega, extende-se o amplo parque de autocarros, organizado sobre um eixo vertebrador paralelo ao rio. A caligrafia dos pavimentos verdes mistos, em consonância com a geometria do estacionamento e da presença de uma longa pérgola vegetal, que protegerá do sol o percurso pedonal no estacionamento, contribuirão para definir e tornar confortável um difícil recinto que estando vinculado ao Terminal de Cruzeiros deverá propor espaços de reserva urbana, os quais a cidade usará como melhor lhe convenha.
Conjuntamente com o estacionamento reservado de superfície, propomos um parque de estacionamento subterrâneo de uso público com capacidade para 495 lugares, ocupando o espaço da antiga doca do Jardim do Tabaco, bem articulado com a estrutura do edifíco do Terminal e com os espaços exteriores no que se refere à localização dos acessos de entrada e saída.
Um ponto relevante para a formalização do edifício foi o desenho das coberturas. Um jogo múltiplo de planos quebrados que se prolongam, se fracturam e se justapõem oferecendo uma paisagem complexa, entrelaçada. Uma paisagem urbana aérea que, entendemos, combina com a fragmentada prespectiva urbana da cidade que se contempla desde os seus numerosos miradores de Alfama, conseguindo assim uma delicada integração com as coberturas do casario.
Ao mesmo tempo este movimento sigiloso de pendentes e grandes águas nos oferecerá a possibilidade de abrir clarabóias onde sejam necessárias, ou ainda grandes janelas à cidade, como aquela que se abre na zona de desembarque, a chegada à cidade, a soberba paisagem do bairro de Alfama, puntuado pelas silhuetas do Mosteiro de S. Vicente e da Igreja de S. Estevão ou da precisa e exacta do Panteão.
As fachadas acristaladas mais expostas do Terminal estarão protegidas por um “brise-soleil” composto por lâminas verticais de material cerâmico, que evitarão a exposição solar directa e transmitirão uma vibração cromática dourada, como alguns dos explêndidos edifícios públicos que desenham a formosa e colorida paisagem urbana de Lisboa.